domingo, 17 de agosto de 2008

Francisco Pacheco ganha em dia de velocidade de ponta

O homem mais vitorioso do pelotão nacional em 2008, Francisco Pacheco (Barbot-Siper), juntou hoje mais um sucesso às sete vitórias com que entrou na Volta. O sprinter da equipa gaiense foi o mais rápido no sprint que coroou uma veloz quarta etapa da Volta, 164,6 km entre a Guarda e Viseu. Rui Sousa (Liberty Seguros) chegou integrado no pelotão, conservando o primeiro lugar na classificação geral individual, na véspera da jornada de descanso.

Depois de uma demolidora etapa de montanha com final no alto da Torre, sob condições de severa invernia, a etapa de hoje poderia ter duas configurações possíveis. Ou o pelotão antecipava o dia de descanso, deixando uma fuga ganhar corpo e vencer a etapa; ou a velocidade, imposta pelas equipas dos sprinters, seria tal que não haveria escapada que pegasse. Foi a segunda hipótese que veio a suceder, acabando por se assistir a uma empolgante discussão ao sprint, com Francisco Pacheco a coroar de êxito o imenso trabalho da sua equipa durante toda a etapa.

A passagem pela alta montanha passou factura ao até aqui imbatível nos sprints Danilo Napolitano (Lampre), que hoje não foi além da sexta posição. Quem não se desgastou demasiado na montanha foi Francisco Pacheco, que fora segundo nas anteriores chegadas em pelotão, assumindo-se como digno sucessor de Napolitano, prevendo-se agora uma disputa acesa entre ambos pela posse da camisola da regularidade, que passou hoje para o corpo do espanhol.

A etapa de hoje revelou a adaptação das equipas nacionais ao domínio evidenciado ontem pela Liberty Seguros. Percebendo que não será fácil destronarem os comandados de Américo Silva dos postos cimeiros e sabendo que a luta pela vitória na Volta está praticamente entregue a uma batalha entre David Blanco (Palmeiras Resort-Tavira) e a Liberty Seguros, Benfica e Barbot-Siper passaram ao plano B.

Os benfiquistas lançaram Pedro Lopes para uma fuga, com o intuito de pontuar na montanha do dia, o que o algarvio conseguiu, aproximando--se do líder da classificação, Rui Sousa. Além disso, José Azevedo, provando ser um brioso desportista, lançou-se em tentatias de fuga, procurando salvar a honra do “convento” encarnado. Já a Barbot-Siper, cujo chefe-de-fila, David Bernabéu, ficou longe da frente, queria “ganhar” a sua Volta da mesma forma que o fez em 2007: através de (pelo menos) um triunfo de Francisco Pacheco. Trabalhando para isso, os corredores de Carlos Pereira tomaram conta das operações no pelotão, para que nenhuma fuga pudesse ganhar muito tempo. É que com o avanço existente dos homens da frente, era de crer que a equipa do líder pudesse deixar chegar uma fuga com homens atrasados na geral.

Com a maioria dos colectivos ao ataque, a tarefa da Barbot-Siper não foi fácil. Valeu a entrada em cena da Lampre, que também pretendia uma abordagem à meta em pelotão compacto, para que Danilo Napolitano pudesse voltar a desenvolver a sua potência nos metros finais. No entanto, perante a inércia da equipa do líder, também os transalpinos recuaram na tarefa de puxar pelo pelotão e quem aproveitou foram dois homens dos mais batalhadores do pelotão: Jacek Morajko (Madeinox-Boavista) e Brice Feillu (Agritubel), que perante o controlo à distância da Liberty Seguros foram construindo uma vantagem que, apesar de tudo, nunca foi muito significativa.

Previa-se que uma aceleração dos blocos interessados no sprint poderia aniquilar as esperanças dos dois aventureiros. Assim aconteceu. Sabendo que o ritmo da Liberty não era o mais interessante para possibilitar um sprint compacto, a Barbot-Siper teve de voltar a dar a cara ao vento para infelicidade de Morajko e de Feillu, que lograram passar na frente na primeira passagem na meta, mas que não puderam ali chegar adiantados na abordagem que verdadeiramente contava. Para o insucesso da escapada contribuiu ainda a presença na frente, na última dezena de quilómetros, da Palmeiras Resort-Tavira, que tinha em Martin Garrido um homem que dava garantias para uma discussão ao sprint.

À passagem pelo pano que assinalava a falta de dez quilómetros para o final, formou-se um grupo de luxo, no qual pontificavam Héctor Guerra (Liberty Seguros), Juan José Cobo (Scott-American Beef) e José Azevedo (Benfica). A Palmeiras Resort-Tavira, que tem de defender a vantagem de David Blanco sobre Guerra, assumiu a perseguição e já perto da entrada para os últimos três quilómetros foi o próprio Blanco que se juntou aos homens da frente, abortando aí a tentativa de fuga.

Em velocidade alucinante, que não permitiu a qualquer equipa organizar-se verdadeiramente para o lançamento do sprint, os corredores aproximaram-se da chegada. Hugo Sabido (Barloworld) ainda tentou surpreender de longe, mas a marcha demolidora dos sprinters acabou com a esperança do corredor luso. Num último esforço, Francisco Pacheco foi claramente superior, batendo o líder do ranking europeu da UCI, Enrico Gasparotto (Barloworld), e Manuel Cardoso (Liberty Seguros), segundo e terceiro, respectivamente. Pacheco completou a etapa em 3h41m38s, a uma alucinante média de 44,6 km/h.

José Carlos Gomes
Classificações

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