terça-feira, 19 de agosto de 2008

Um dia com Joaquim Gomes

António José Rodrigues (OJOGO) acompanhou a quinta etapa da Volta no carro do director

O telemóvel é um amigo inseparável. Joaquim Gomes é o homem forte da Volta a Portugal desde que abandonou a carreira, em 2002, e está, agora, a cumprir o desígnio para o qual se sente mais talhado: “sempre gostei de gerir projectos”, pondo em prática toda a experiência adquirida ao longo de 17 anos de carreira e 18 Voltas disputadas. “A primeira ainda foi como amador mas correu tão bem que me abriu boas perspectivas de profissionalização”, recorda.

Agora levanta-se mais cedo do que quando corria. “O dia começa às 6h30 da manhã, com uma corridinha de meia hora. Depois do duche agarro-me ao computador, porque estamos a preparar uma prova em Setembro (GP Crédito Agrícola, na Costa Azul). Mas o meu telemóvel entra em acção logo a partir das 7h00, porque muitas vezes há situações que é preciso resolver com a equipa que monta as partidas”, explicou. A partir daí, “o baile está armado”, brinca. Agora é assim. Mas podia ser diferente. “Estar à frente de uma equipa? Não. Já me bastaram os anos em que andei lá dentro [do pelotão]. Costumo dizer que desde 2002 que estou de férias”, ri-se.

Enquanto se desdobra a atender telefonemas atrás de telefonemas, tem de se preocupar em estar nas partidas logo a partir da hora da concentração. “Há autarcas para acompanhar, que investem bastante na Volta.” Depois é que começa o verdadeiro trabalho. Enquanto segue na frente do pelotão, é preciso controlar o esquema de segurança, para que nada falhe. “Nesta altura preocupamo-nos com tudo menos com as equipas e com os ciclistas, precisamente para que nada lhes falte”, atira. Enquanto vai passando umas sandes a Ricardo Felgueiras, antigo companheiro de equipa, que guia o carro da direcção de prova, onde segue também Luís Carimbo, responsável pela actualização constante do site da PAD, recorda um incidente da terceira etapa. “O carro de um dos comissários furou. Quando foi buscar o pneu suplente, encontrou apenas um kit de reparação. Como o pneu tinha um lanho, foi preciso ligar à seguradora. Expliquei-lhes que da mesma forma que um jogo de futebol não pode decorrer sem um fiscal de linha, uma prova de ciclismo não pode ficar sem comissários. Um quarto de hora mais tarde já estava lá um reboque e… um táxi. O comissário teve de perseguir o pelotão no táxi, até apanhar os ciclistas e ter boleia de outro carro da organização”, conta, bem humorado.

Até ao final da tirada é preciso ainda arranjar boleia para alguns convidados em S. João da Madeira e zelar pela segurança dos ciclistas na última meta volante, instalada 50 metros antes de uma curva perigosa. “Quando fizemos o reconhecimento, estava tudo bem. Entretanto puseram lá uma rotunda e a meta teve de avançar uns metros…”
Os quilómetros finais são os mais tensos, até pela grande quantidade de gente a ver a prova. “As equipas estrangeiras ficam doidas. A própria Volta a Espanha tem menos gente que nós”, comenta.

Após marcar presença na cerimónia do pódio, termina o dia com uma reunião com os responsáveis das várias áreas. Ou melhor, espera que o dia termine, porque pode sempre haver um telefonema durante a madrugada.

António José Rodrigues (OJOGO)

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