sábado, 16 de agosto de 2008

O que esperar da etapa da Torre?

Este ano a chegada ao alto da Torre aparece mais cedo do que é costume, fazendo com que os candidatos cheguem quase com as baterias carregadas a esta dificuldade. Assim, o factor desgaste acumulado será bem menos importante do que, por exemplo, no ano passado. Nestas circunstâncias, valerá mais ser-se ou não trepador e o estado de forma neste momento.

Tendo em conta os principais favoritos e as suas características que podemos esperar da tirada da sera da Estrela deste ano? Héctor Guerra (Liberty Seguros), apontado como o principal candidato, não tem obrigação de atacar tão cedo. Sendo melhor contra-relogista do que a maior parte dos rivais, sabe que tem tudo a ganhar enervando os adversários colando-se-lhes nesta subida, sem ter a necessidade de fugir-lhes.

Cândido Barbosa (Benfica) é outro ciclista que não tem obrigação de atacar na Torre. Há outras etapas que se adequam mais às suas potecialidades - Santo Tirso ou Fafe, por exemplo -, pelo que seguir a roda de Guerra será uma opção a ter em conta. Rubén Plaza (Benfica) lidera, é um excelente contra-relogista e não se define como trepador, pelo que também não é de esperar que opte pela ofensiva.

David Blanco (Palmeiras Resort-Tavira) defende-se bem na montanha, mas é nos “cronos” que desenvolve melhor o seu potencial. Na serra da Estrela é de crer que esteja na expectativa, não devendo tomar a iniciativa de escapar, mas podendo reagir a um ataque alheio, caso se sinta bem. O mesmo se aplica a David Bernabéu (Barbot-Siper). Experiente e calculista não irá desperdiçar energias, mas pode tentar integrar uma iniciativa atacante alheia caso as sensações sejam as melhores. Tiago Machado (Madeinox-Boavista) não entrou bem na Volta e precisa de recuperar o tempo já perdido. No entanto, depois do descalabro que foi a sua etapa da Torre em 2007, desconhece-se se terá a confiança suficiente para arriscar.

Quem inevitavelmente terá de jogar as suas cartadas são os candidatos reconhecidos como trepadores por excelência. A dupla de líderes da Fercase-Rota dos Móveis, Francisco Mancebo e Eladio Jiménez, tentará marcar diferenças desde já, pois ambos os corredores são inferiores à concorrência no contra-relógio. Santiago Pérez (CC Loulé) e Juan José Cobo (Scott-American Beef) também têm de começar a procurar marcar posição quanto antes, pois é na montanha que se sentem melhor.

A escalada à Torre, antecedida por duas outras subidas, uma de segunda categoria e outra de primeira, proporciona-se ao endurecimento precoce da corrida. Isso pode ser feito pela imposição de um ritmo tal que ninguém consiga sair, trabalho que terá de ser executado por uma equipa com muita confiança nas capacidades do seu líder e que disponha de um colectivo capaz desse trabalho. Pode ainda acontecer que os principais blocos, que dispõem de mais do que um homem com categoria para ganhar a Volta, tentem dar que fazer aos rivais.

Não seria de estranhar que “segundas linhas” de luxo como Koldo Gil e Nuno Ribeiro (Liberty Seguros), José Azevedo (Benfica) ou Nelson Vitoino (Palmeiras Resort-Tavira) saltassem do pelotão para obrigar os rivais ao desgaste da perseguição. Se isso acontecer e se a(s) lebre(s) em causa se apresentar(em) num dia sim, podemos ter as contas todas voltadas do avesso. Não nos esqueçamos que o último português a inscrever o seu nome no álbum de ouro da Volta, Nuno Ribeiro, fê-lo numa circunstância destas: lançado às feras em serviço para Andrei Zintchenko acabou por emancipar-se a caminho da Torre, logrando uma subida de excelência e assumindo-se, ali, como líder da equipa.

As conjecturas podem ser muitas, mas o desejo é apenas um: que aconteça uma grande jornada de ciclismo e que a meteorologia, tantas vezes matreira na Torre, não pregue nenhuma partida.

José Carlos Gomes
Foto: PAD/JLS

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